terça-feira, 21 de fevereiro de 2012



SOBRE PRÉ-NATAL E PARTO NA DINAMARCA
Aqui na Dinamarca o sistema de saúde e acompanhamento das gestantes é diferente do Brasil. Na verdade nem sei muito como é o sistema brasileiro, mas vou explicar mais ou menos como funcionou comigo aqui.
Assim que tudo confirmado sobre minha gravidez, meu marido ligou na minha médica (aqui todo mundo tem um médico geral designado de acordo com seu endereço) e marcou uma consulta. A primeira coisa que a secretária perguntou quando meu marido disse que eu estava grávida foi: 
-“Ahn...isso é bom ou ruim?”
-Muito bom!
O motivo que fez a menina perguntar se era bom ou ruim, era para ter uma abordagem específica durante a consulta. Ou seja, vamos falar sobre pré-natal ou aborto? 
Aqui o aborto é legal até certo estágio da gestação.

Na consulta ela me deu duas opções de hospital para fazer os exames e parto. Um deles era o Rigshospitalet, o outro nem me lembro. Quando ela disse Rigshospitalet eu já tinha decidido. Era lá. Esse é o maior hospital da Dinamarca, o mais conhecido por sua qualidade e ui ui ui, essas coisas aí. Maaaaaaaas, na minha cabeça só tinha uma coisa: Lars Von Trier. Sim, o polêmico diretor de cinema dinamarquês! Foi nesse hospital que foi gravado o seriado RIGET, ou em inglês, THE KINGDOM.

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Super fundamentada minha decisão, né?

Assim, ela me deu um calendário e mais uns papéis, que eu tinha que levar a cada consulta com ela, exames no hospital e acompanhamento com a midwife.

A midwife. Annete. Uma senhora fofinha e bem humorada! 

As consultas com ela eram muito legais. Eu e meu marido íamos lá com a cabeça cheia de perguntas e voltávamos aliviados. Era num prédio perto do hospital, mas lá só tinha midwives e um hotelzinho para mães, pais e rebentinhos que quisessem ou precisassem de uma ajudinha extra depois de deixar o hospital. Tudo do governo, viu, minha gente!

Lá ela media minha barriga, ouvia o coração com aquela cornetinha de madeira e depois com doppler, respondia minhas perguntas, ria com jeitinho engraçado das perguntas cabeludas do meu marido (sempre envolvendo cocô). Ela também marcava meus exames no hospital.

No meu primeiro scanning tudo foi muito lindo! Feijāozinho crescendo e beleza. Segundo scanning nem tanto...um probleminha. Minha placenta estava muito baixa e, se continuasse assim eu nāo poderia ter parto normal. Mas as técnicas me disseram que era muito difícil a placenta nāo subir. Em 30 anos trabalhando no hospital ela nunca tinha visto uma placenta desobediente. Terceiro scanning. A placenta ainda nāo subiu, melhor falar um pouco mais sobre cesárea. Até aqui, eu tinha uma idéia romântica do parto normal. Achava o máximo essa coisa de vínculo mãe-bebê. Mas também tinha muito medo da bunda explodindo e saindo aquela cabeça enoooooorme, o rasgo ou episiotomia, incontinência urinária e outros regalos do parto normal (eu sei que nem tudo isso acontece com todas as mulheres, exceto a cabeça saindo!). Então comecei a fazer amizade com a cesárea. Eu nasci de cesárea. Minha irmã também. Minha mãe só teve essas duas experiências (como muuuuuitas brasileiras), então ela me deixou tranquilinha. Eis que eu me acostumo com a idéia da cesárea. Acho prático e tals. Quarto scanning. A placenta subiu! 38 semanas e ela subiu! Agora, me olha a técnica com um largo sorriso:
-Então vai poder ser parto normal!
Arregalei meus já descomunalmente grandes olhos, engoli seco e dei um sorrisinho amarelo.
Vim para casa já enfiando na minha cabeça da maravilha que é o parto normal, no maior  Pollyana style.

Aqui, parto normal é regra, cesárea só em último caso MESMO. Tanto que o acompanhamento é feito pela midwife e o parto também, no caso do normal, claro. Médico, só se houver complicação.

Ai, olha eu querendo guardar para outro post o sexo do bebê! To falando que cérebro de mamãe não ajuda! Dããããã! Já falei faz tempo (tipo ontem) que sou mãe da Katarina! E nem acho que esse nome seria legal para menino, portanto, tcham tcham tcham tcham:::::::::É MENINA! Descobri isso no segundo scanning.


A data prevista para o nascimento da Katarina era 24 de novembro.

Minha mãe querida veio diretamente de Jacareí, a 75 km de São Paulo, no dia 27 de novembro, afinal de contas, melhor que chegasse quando eu já estivesse em casa com filhotinha para ela me ajudar.

Chega mamãe, mas não chega filhinha. 

Então mais acompanhamento com a midwife, que já achava graça eu estar na 41a semana e nada de neném, marcou uma consulta no hospital, para tentarem estourar minha bolsa quando eu entrasse na 41a semana. 

Vamos toda a família buscapé (marido e mami) para o hospital. A consulta era as 19 horas. A enfermeira tentou estourar minha bolsa mas não conseguiu. Então me deu comprimidos de hormônio para induzir o trabalho de parto. Tomei os benditos, tive dores a noite toda, mas nada da bolsa estourar. Na manhã seguinte voltamos ao hospital e me colocam o Foley, aquele balãozinho, para abrir meu cervix. Volta o cão arrependido, com suas orelhas...mais dores plus incômodo do balāo. Nada da bolsa estourar. De novo, pela manhā hospital e dessa vez a midwife consegue estourar minha bolsa com aquele agulhāo de plástico! Me mandou dar uma voltinha pelo hospital mesmo, para a água sair e voltar em uma hora, já para sala de parto. VIVA!!! Vou eu linda e maravilhosa de fralda e tudo, acompanhada pelos meus fiéis escudeiros, mama e marido (o nome do meu marido é Linus, caso eu me refira a ele por nome em algum outro lugar) para a cafeteria do hospital tomar um chazinho. Ao meio dia fui para a sala de parto.

Lá me deram umas roupinhas super fashion (bermudāo(?), camiseta polo(?) e meia de jogador de futebol, além da querida calcinha descartável de telinha e fralda).

Entra Pernille, essa midwife querida que estourou minha bolsa. Teve que me aplicar ocitocina sintética. Dores dores dores, lavagem, nada. Acabou o turno da Pernille. Entra outra midwife. Técnicas mexicanas (me enrolar no lençol e ficar me sacodindo), mais ocitocina, cochilo de 1 minuto entre as contrações, eis que ela constata que durante a contraçāo tenho dilataçāo de 8 cm! Mas a Katarina realmente nāo quer sair da minha barriga, porque tem medo de apanhar. Eu ameacei algumas vezes, por conta dos mais de 20 kg que ELA* me fez ganhar, e ficava subindo logo depois da contraçāo. E doeu doeu doeu, até que pedi anestesia. Uma interfonadinha e ele chegou! Claro que disse que nem ia doer, nāo poderia ser pior que todas aquelas tatuagens que tenho nas costas. Mas doeu sim. Bastante. Acabou o turno dessa midwife. Entra uma garotinha, tipo de 20 anos. Ao ver minha cara de choQUEAda (como diz meu marido sueco! nhóim!) ela me diz que é aprendiz, que vai ser acompanhada por uma midwife experiente. Todos sorriem de alívio. Ah é, TODOS porque além do meu marido minha māe também entrou na dança de me ver parindo. As mocinhas sāo uns amores, super me incentivando e elogiando minha performance de parir. Juro que nāo sabia que era tāo talentosa! Empurra empurra empurra, tenta a cadeira de parir, volta para a cama, empurra empurra empurra. Entra midwife chefe:
-As meninas estāo se gabando de você pelo hospital! Como vc faz tudo direitinho.

Eu estava na cama na posiçāo frango assado e nāo tinha mais nada na minha agenda naquele dia, entāo resolvi focar no nascimento da minha filha.

-Mas os batimentos da sua filha estāo baixando muito durante as contraçōes. Se continuar assim, teremos que usar o vacuum extractor (não é Tabajara) ou cesárea.

-O que? Cesárea???

Quase morri e voltei. Então decidi ser a parturiente mais aplicada do mundo. Não sei se fez diferença ou não, mas o medo de ter que passar por uma cesárea depois de todo o meu esforço fez meu cansaço diminuir. Muito empurra, incentivo, gás hilariante, e coraçãozinho batendo mais devagar. De repente tem mais 4, além das duas midwives, na sala. Sei que apertei a mão de todos, mas não consigo me lembrar direito. Uma anestesia local, uma mulher com um troço gigante na mão, minha mãe saindo da sala de fininho, a midwife falando que saiu a cabeça! Um alívio! Saiu o neném! Alívio maior ainda! Chorinho, entra minha mãe de fininho na sala, 3 minutos depois tenho Katarina nos braços! Para mim esses 3 minutos foram uma eternidade e muito rápido. Não sei explicar. Esse gap antre saiu de mim, veio para meus braços é inexplicável. Ela está ótima! Eu estou ótima também! Não sinto nenhuma dor, não ouço nada, não vejo ninguém além dela. 

Me projetei para a cama do lado (não me lembro de ter levantado) e amamentei. Assim, minutos depois que ela nasceu. Ganhamos bolo, suco e bandeirinhas dinamarquesas. 

Tirou 9 no APGAR, nasceu as 2:19 da manhã do dia 08 de dezembro de 2011, com 53 cm e 4.222 kg. Minha minha minha!

Não saiu de perto de mim desde quando saiu de dentro de mim. Só para fazer os primeiros exames, ali mesmo, do lado da minha cama. Depois fomos para o quarto de recuperação, porque usaram o vacuum cup tivemos que ficar em observação por 3 dias. Fui para o quarto de cadeira de rodas com Katarina no colo. 

Depois de alguns minutos vieram medir minha pressão e esses outros procedimentos chatinhos. Katarina sempre na cama comigo ou no bercinho, colado na minha cama. Meu marido dormindo na cadeira do meu lado. As enfermeiras, midwives e consultoras de lactancia vinham me ver o tempo todo e me ajudar. Principalmente com a amamentação. Mas isso fica para outro post. Hora de dormir, amanhã é dia das primeiras vacinas da Katarina. Aiaiaiaiaiaiai!





*chocolates, sorvetes, pizzas  e por aí vai

4 comentários:

  1. O que é APGAR? e pq vc fala das coisas na dinamarca? histórico, por gentileza

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  2. Errrr! Será que minha própria irma nao se lembra? ahahaha

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  3. Meu parto na Dinamarca foi um pesadelo, A bolsa da agua caiu e fiquei 36 horas no hospital, vem parteira, sai parteira, coloca hormonio para se dilatar, dá remedio mais forte para fazer o parte ser mais rapido. E nada. No fim deu cesaria e... a epidural (nao sei mais o nome em portugues, anestesia só do corpo para baixo, nao funcionou. Comecaram a me cortar e que dor! Trocaram tudo para um anestesia geral e depois ninguem veio conversar sobre o ocorrido. Alias, muitas das minhas experiencias no sistemar hospitalar dinamarques terminaram sem sucesso. Deve ser pq nao acredito em autoridades. Perdi tb o meu primeiro bebe por falha medica, mas essa é outra historia.

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    1. Que horror!!! Muito triste q vc tenha passado por essas coisas

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