MORANDO FORA

Faz pouco mais de 2 anos que saí do Brasil para morar na Dinamarca. Vim por conta de um emprego, que era para durar 6 meses. A empresa queria por 2 anos, ou no mínimo 1. Mas eu não queria ter mais uma faculdade inacabada no meu curriculum, além do que eu gostava mesmo de estudar Direito e não sabia se iria gostar daqui ou não. 

Lembro da minha irmã falando que eu seria muito burra se voltasse pro Brasil.

Cheguei aqui sabendo que passaria 6 meses com meu marido (na época era meu "namorado", mas isso é oooutra história...).

Chegando próximo ao fim dos 6 meses, renovei meu contrato por mais 6 meses. Casei. Daí já imaginava que não iria embora tão cedo. Engravidei. Tive minha linda Katarina. Agora fico em hold aqui. Não sei explicar.

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Hoje me peguei pensando na expressão "morar fora", e ela nunca fez tanto sentido como agora. Principalmente a parte do "fora".

Sou brasileira, nunca vou criar raízes na Dinamarca ou em qualquer outro lugar. Posso me acostumar, gostar e tudo mais, mas raiz mesmo só no Brasil. Raiz para mim remete à família, e minha família está longe. Claro que minha filha e meu marido são minha família também, mas está faltando uma parte, e que falta faz!

Moro "fora".

Aqui as pessoas me explicam sobre como fazem as coisas, como elas funcionam na Dinamarca. Meu marido me fala das coisas na Suécia. E sabe como foi nas 2 últimas vezes que estive no Brasil? Me falaram como as coisas funcionam por lá também! 

Morei 26 anos no Brasil (que conste nos autos que tenho 28!) e ainda assim as pessoas sentem a necessidade de me explicar algumas coisas. E elas estão certas, muitas coisas mudaram desde que fui embora. Mas é aí que me sinto morando fora mesmo. Aqui na Dinamarca estou fora do Brasil. No Brasil estou fora de lá (ou daí, caso você esteja lendo esse brógui do Brasil il il).

Não tenho intenção, pelo menos não em futuro próximo, de voltar a morar no Brasil. Segurança e serviço público falam alto no meu caderninho de prioridades. Penso que para ter saúde, educação, transporte e etc do mesmo nível que se tem aqui, tem que ser rico no Brasil. Aqui se paga imposto alto, como no Brasil também, mas aqui é realmente revertido à população. Além do esquema Robin Hood de pagamento de imposto aqui, que não sufoca quem tem menor poder aquisitivo e nem faz cócegas nos abastados. Quanto mais se ganha, mais se paga. Mas não é disso que eu quero falar.

Semana passada retomei contato com um amigo brasileiro que mora na Suécia há 9 anos. Ele me disse que não se sente brasileiro, que parece que nasceu no lugar errado. Isso mostra que há a possibilidade de me sentir "encaixada" um dia, mas hoje ainda me sinto deslocada. Isso acabou fazendo com que eu me fechasse ainda mais e ficasse mais impaciente. Tudo me parece muito temporário e adiável. 

Tem muita coisa boa aqui, eu só preciso aproveitar mais. Como hoje. Calor, verde, colorido das flores. 

Escrevo do jardim na companhia mais agradável possível: minha filha.

Ah, vocês estão vendo esses cookies aí? Fiz ontem, são cookies para aumentar a produção de leite materno, amanhã vou explicar melhor e colocar a receita aqui.

Hej hej!